Desculpa,
Tanto tempo faz, tanto fez, que não olho no
espelho. Não paro e nem reparo quem sou, quem fui, quem serei e quem me torno agora.
Preso no extremo lance da sedução de uma chama de vela, que não me permite ler os
pequenos rascunhos de um livro que nem sei mais se quero escrever.
Meus personagens (meus eus que se foram)
cheios de cor e brilho foram ficando opaco. Um cinza morno, vazio e melancólico
do dia-a-dia, por mais que eu acreditasse ser um verde florescente... Assim é a
vida nos dias de hoje, fazem-nos crer vaga-lumes e damos de encontro com a
brasa da lamparina. Queimamo-nos!
Há de existir mais poesia, que não sei onde
buscar. Talvez eu deva criar meu novo reino, mundo proibido, vacilar na
fantasia e me deleitar no delírio pleno! Quem sabe estariam certos os mundanos:
é se perdendo que se encontra...
Quase não há um pedido explicito de
desculpas, mas, na verdade, é que a vergonha me aflige em ser tão direto. Peço
desculpas por ter me feito tão correto, ter buscado tanto a vida estável, o
mundo humano! Já não me cabe mais este grilhão, há outros mundos. Meu lugar é
junto à poesia, há meus amores, meu Amor.
Aqui há monstros...