sábado, 17 de dezembro de 2016

Entre Paraísos Artificiais e um Cotidiano Mundano


Entre Paraísos Artificiais e um Cotidiano Mundano

Eu costumo alimentar os gatos que vivem perto da minha rua. Eu confesso que me sinto levemente estranho, meio que mais humano. É como se eu me reconectasse com algo bem íntimo meu, meio esquecido e empoeirado. Depois de anos estudando teorias sobre subjetividade e construções políticas do eu, fica difícil olhar o mundo com outros olhos, outras formas mais leves e puras (se é que existe uma pureza).

Acontece que me sinto levemente mais humano, mais inteiro, como me reconectando com demais formas de vida, ancestralidade, sei lá. Aceitem meus segundos de piração! Bom, é como tomar um café em uma mercearia antiga, cheia de prateleiras velhas. É como olhar pela janela os pingos de chuva que caem do céu de encontro ao chão. É como observar as ondas que batem na pedra. São estes momentos singulares e bem simples, que não precisam de muita explicação, apenas estar ali presente!

Quando falo em paraísos artificiais, falo dos espaços coletivos entre companheiros de conspiração e amor. Aqueles espaços construídos intersubjetivamente mesmo, palavra grosso modo, e que compartilhamos idéias, às vezes comida e bebida... No fim das contas, dividimos um tempo de nossa existência para está ali presente com outros. Mas existem fatos cotidianos bem mundanos que nos jogam pra longe da necessidade da presença física de outros e suas regras sociais para nos sentirmos inteiros e parte de um coletivo chamado universo. Como uma risada gostosa depois de uma piada boba, como observar um animalzinho dormir, como o prazer no cheiro de terra molhada.

De certo, não sei explicar, só sentir! E sinto muito se você não entendeu, talvez não estejamos tão conectados, mas podemos tentar. Posso te contar sobre minha vida, você sobre a sua, podemos tomar um suco ou café, um vinho, talvez. Podemos estar presentes em algo que estamos fazendo e está presente tem sido algo extremamente raro. Estamos muito ludibriados pelos nossos paraísos artificiais, mas tão pouco atentos ao nosso cotidiano mundano.


Sei lá, vai ser isto tudo não faz sentido algo e é apenas mais um devaneio!

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Daquilo Que Não Pode Ser Dito


Daquilo Que Não Pode Ser Dito

Ainda lembro daqueles velhos dias
Daquelas tardes quentes e noites frias
Das conversas secretas e perdidas
Das mentiras bobas que eu queria

Eu desejava teu sexo, teu calor, tua alma
Eu queria estar contigo, era preciso
Eu queria estar impregnado do teu ser
Teu cheiro, teu sabor, tua calma

Lembro das baladinhas românticas
Aquelas com versos bobos e clichês
Aquelas que não faziam inveja
Éramos melhor do que os casais da TV

Cada suspiro nosso era um livro
Cada olhar era como um verso
Cada sussurro proibido...
Éramos um namorar eterno

Mas a vida não é de todo lirismo
E a fantasia deu espaço ao concreto
Nos tornamos estranhos íntimos
Nos perdemos em meio ao tédio

sábado, 16 de julho de 2016

Mudanças


Mudanças

Não sei porque você foi mudar
Não sei porque foi se mudar, meu amor
As coisas já não são mais iguais
As coisas não são mais iguais meu amor

O que a gente aprende na escola
É só pra depois poder esquecer
Esquecer que nem tudo importa
E ficou muitas coisas entre eu e você

Tem dias que parecem noites
Tem noites que não tem mais fim
E também tem os fins de semana
Uns meio bons e outros bem ruins

Não sei porque você foi mudar
Não sei porque foi se mudar, meu amor
As coisas já não são mais iguais

As coisas não são mais iguais, meu amor

terça-feira, 12 de julho de 2016

Um Dia Daqueles...


Um Dia Daqueles...


Há dias e dias. Hoje é um daqueles dias em que estou esgotado, mas não de mim. O mundo me fez transbordar. Transbordo tudo o que sou e que sofro. Não que para ser algo é preciso sofrimento, mas que, por algum motivo, somos ensinados a pensar sobre nosso lugar no mundo quando nos sentimos desamparados. Sendo assim, estou esgotado por tu que eu sou se esvazia agora, transborda pelos esgotos e frestas por onde vou. Tudo o que sou fica exposto em um momento simples em que escrevo. Tem sido difícil estar só comigo assim, eu sempre me procuro quando as coisas se esgotam. Gotejam pensamentos e sentimentos e que, de repente, me inundam. Afinal uma hora a gente se enche e é preciso esgotar, deixar ir, deixar fluir. É uma espécie de piração pessoal. Ou seria melhor dizer uma espécie de inspiração social? Bom, este é um dia daqueles em que nada faz sentido e eu estou sentido tudo. Que cada poro do meu ser acha palavras pra descrever algo. Que se eu não descansar minha cabeça sobre um escrito eu vou parar... possivelmente numa mesa de bar! Ah, estou farto de tantas coisas, estas nem cabem no papel, nem merecem ser ditas, só o que merece ser dito é que estou farto. Foram muitas gotas d'águas desaguando em mim. Inundou tudo e por dias e semanas me emudeceu. Mas agora estou aqui falando, não é? Dentre muitos dias e semanas, logo agora, não há conflitos. Estou inteiramente definido, recortado em um plano de fundo obscuro, mas previsível. Não é crise existencial, não é vida adulta, não é nenhum destes clichês dos cinemas autobiográficos. É apenas aquilo que nos faz seres humanos mais centrados, um carrossel de sentimentos loucos, que mais parecem uma montanha russa. É quando você se olha no espelho e se dá conta exatamente de nada, mesmo que haja muitos problemas na vida, que eles já tenham planos e algumas soluções em andamentos, mas você simplesmente olha pro espelho e não entende nada. Você se dá conta que nem se reconhece mais e rola aquele sentimento "quem diabos é vocês aí na minha frente?" e "de onde saiu este cabelo branco?", enfim... É aquele dia que você tem vontade de dizer "já chega c******, é hoje que vou me mudar, sumir, partir, montar uma banda de punk rock e ser hippie!". Você se sente esgotado e cheio, cansado e criativo. Você simplesmente está ali: frente a frente consigo mesmo e, faz tanto tempo que isso não acontece mais, que você não sabe o que fazer... se convida pra tomar um chá ou sair pra beber... Tudo isso porque hoje é um dia daqueles...

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Promethea


Promethea

Como descrever a imatéria viva dos devaneios e poesias? Como descrever os encantos da própria magia? Como dizer o indizível do sentimento? Como sentir sem se perder nos pensamentos? Eis que vem em brumas da manhã vestida de vento, sereno e frescor. Eis que vem dançando como música, sonhos e sons. Eis toda bela, que dum olhar se prova o sabor, do toque quente e leve se ouve o odor, e me afogas lento e imerso em amor. Mais sábio fosse me calar e mergulhar de vez e mais fundo nas ironias oníricas de teu ser. Deleitar-me sem refugio, despido de mim, apenas para teu prazer. Escrever as palavras mais fajutas e obtusas que não se possa ler. Eis que teu encanto sopra pra longe minha lógica fria, usurpando-me toda monotonia, deixando-me livre para poder voar e viver. E vivo atormentado pelo teu sorriso doce, tua caricia brisa, de um traço vermelho fosco que toca teu lábio grosso em forma de poesia. E, assim, desmancha no ar teu calor, tua pele, quando toca de leve os sonhos de quem a ti escreve... 

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Interrogações e Interjeições


Interrogações e Interjeições

Seria uma poesia
Sobre uma poesia
Mais uma poesia
Ou mera repetição?

Afinal, existem pessoas
Que são poetas
E existem poesias
Que são pessoas

Seria uma poesia
Sobre uma poesia
Mais uma poesia
Ou mera descrição?

Afinal, existem pessoas
Que são poetas
E existem poemas
Que são pessoas

Seria uma poesia
Sobre uma poesia
Mais uma poesia
Ou deveras interjeição?

sábado, 12 de março de 2016

Notas Sobre Ela


Notas Sobre Ela

Ela devora meus desejos
Se lambuza nos anseios
Me desfaz a delirar
Sem fôlego, pensamento, sem ar

Ela é o convite e a atração
Espetáculo perigoso, sedução
Numa cama, num palco, na grama
Entre sombras, suspiros, sem drama

Ela não deseja menos que tudo
Se contenta apenas em devorar o mundo
Se delicia nas desmedidas do desejo
Uma boca, uma taça, uma beijo

Ela é, ela quer, ela faz
Olhares audaciosos e mais
Ela sobe, monta o mundo
Cavalgando estrelas, morno e profundo

Ela se molha em sonhos lúcidos
Inebriados em tons opacos
Em tons de pele, de toque
Em vermelho batom, cores em choque

Ela é um contraste abstrato
Entre sons, cheiros e contato
Ela é o limiar da minha loucura
Plena, inteira, como morder fruta madura

Ela é... Ela quer... Ela faz!

Ela...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Tão Malina


Tão Malina

É o universo que dança a teu redor
Em formas finas multicoloridas
Desafia aquelas leis da física
Rodopiando em vergonha e malícia

Lábios que contraem
O tempo, o espaço, mais
Formam curvas, formam arcos
Enrijece desejo e pecados

E estas curvas, tão curvas, sinuosas
A meia-luz, que a luz se dobra
A meia-lua, meia-noite, meia-hora
Eu meio-tolo, tu perigosa

É o perplexos do convexo do olhar
Da sombra mística do teu balanço no ar
De um vestido, tão vestido a revoar
Das duras penas, duas pernas a mostrar

É o bagaço do meu ser a ver teu ser
Da minha retina, desatina ao te ver
Fabula da fruta a ser mordida
Tão fabulosa, obtusa, tão malina

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Fragmentos de um Eu Lírico Perdido


Fragmentos de um Eu Lírico Perdido

Há tantas metáforas para a vida. Será que as pessoas se importariam com mais algumas? Às vezes me pego pensando que a vida seja mesmo como um livro que você se depara com aquela gravura, quando por acaso um vento bate e levanta páginas aleatoriamente até aquele ponto... Esquecido. Às vezes a vida parece como quando você está no carro sem pendrive e busca sintonizar alguma rádio e, por acaso, se depara com aquela música... Há tanto esquecida. É como naqueles dias nublados em que você vira uma esquina que você não passava há anos e, de repente, sente várias coisas que nem lembrava que existiam.

Há muitas histórias abaixo das sombras dos postes, a curva de cada esquina, nos traços de cada porta. É aquela marca de iniciais gravas com estilete na carteira de uma sala de aula. É aquele diário velho, surrado e esquecido no fundo de uma gaveta. É aquela sua blusa que você nunca mais via... Aquela borrada fotografia. São tantas coisas, todas são histórias. Nós somos histórias. Nós nos esquecemos das histórias, nós esquecemos de nós. Acho que em meio aos dias e dias do cotidiano eu fui esquecendo de contar histórias e, entre os dias e dias, eu fui esquecendo de mim. Não fui contando a mim mesmo, não fui tocando a mim mesmo, fui me perdendo de mim.


Há semanas eu procuro meu eu lírico, aquele das poesias livres e leves, sonhadoras. De alguma maneira, sinto que eu, eu mesmo, estou aqui. Em alguma entrelinha deste texto eu posso estar obscurecido pelo cansaço da madrugada e eu não me sinta tão bem representado, não me reconheça aqui. Bom, mas o primeiro passo é este aqui: sentar e escrever e reescrever esta história, este eu lírico perdido, esquecido por aí. Esquecido entre uma velha e uma nova série de TV, entre uma música nostálgica ou aquela fotografia envergonhada. Esquecido em algum sorriso ou sorvete de limão que deixei de tomar. Esquecido nas coisas que eu faço, que me fazem eu, ser eu, eu lírico esquecido, eu lírico encontrado.