sábado, 27 de agosto de 2011

Vidas e Vilas

Vidas e Vilas

Minhas raízes soltas no ar
Minhas varizes, mapa de algum lugar
Eu perco as horas na estrada
Estrago meu tempo por nada

Escrevo cartas em bom burguês
Uso métricas e frases clichês
Digitalizo meu pensamento lugar
Eu não sei onde estou, nem onde quero chegar

Minha garrafa de vinho pela metade
Metade gente, metade liberdade
Fumaça, cigarros, mas não fumo
Grandes cidades, auto-estrada, sem rumo

E a bailarina não cansa de girar
Bêbados na esquina, madruga, madrugar
Meninos e meninas e o pecado original
Tudo o mundo ensina nos classificados do jornal

Entro na balada, entro na rotina
Pequenos empresários de trás da cortina
Tudo parece está no lugar
Quando tudo não para de mudar...

Borboletas


Borboletas

Uma leve borboleta
Voa sobre céu azul
Risca o infinito de cores
Deixa tudo quase nu

Vai despir a natureza
Desabrochar amores
Fazendo suas vestimentas
A beleza das flores

Chuva de purpurina
Brilho doce, mel, enfim
Pólen, carnaval das flores
Confete, amores e festim

Rainha das mudanças
Mágica da pureza
Delicadas asas
Pequena de rara beleza

Voa em mim, por mim
Faz-me teu jardim
Faz de mim teu amor
Faz-me tua flor...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Carta a Alguns Amores e Desamores

Carta a Alguns Amores e Desamores

Quero que a senhora filosofia, psicologia e ciência me deixem em paz! Preciso de um tempo a sós com minha velha e querida amiga, muitas vezes amante, poesia. Já me cansei de esperar vocês se resolverem no mundo, dêem-me licença que eu, aqui, não vou ficar. Quero expandir meus horizontes e vos quebrar, romper, cair num abstrato infinito do mundo, universo de possibilidades, poesias e arbitrariedades, que a vida epistêmica não pode me dar.

Creio que, em umas horas destas, estarei com minha musa, meu amor, minha amada, minha pequena e mais bela poesia já vivida, que já vivi, meu complemento, meu querer. Se a senhora inspiração não se fizer presente, a seqüestrei, a pegarei por bem ou por mal! Não é algo descente isto que ela faz, aliás, não faz! Me deixa solto ao relento, cheio de sabores, saberes, tudo me envolvendo em idéias, mas largado as racionalismos, empirismos, coisas tão pequenas e reduzidas, que reluzentes ficam a luz. Inspiração, é preciso mais vida, menos conceitos, mais entendimento, envolvimento! Estas suas férias, quase aposentadoria, não tem me feito bem...

É-me preciso escrever, tornar experiências compartilháveis, compreensíveis aos olhos humanos... não sei viver sem um pouco de poesia, já não me adianta mais ouvir Cazuza, Renato entre outros senhores que a senhora sempre visitou. O que me falta? Só por que não sei tocar violão, não significa que deva me deixar de fora da sua turminha VIP!

Enfim, prometo que depois desta semana escreverei uma bela poesia, a mais bela poesia, acima de pau e pedra, ferro e fogo, e políticas de literatura, tudo. Esta poesia sagrada virá, existe um amor que me espera para viver esta poesia, e assim a descreverei, a escreverei, a gravarei nos registros do universo, com belas ferramentas, como o sorriso, o desejo e o amor!

Se a senhora não viver, inspiração, e expulsar aquelas criaturas lá de cima, eu farei A Poesia, e você não será co-autora, nem receberá citação, pois terá sido uma nova parceria com a senhora paixão!

Poesia Sofrida (ou o Parto sem Luz)

Poesia Sofrida (ou o Parto sem Luz)

Delicados dedos que bailam no ar
No teclado sapateiam a desenhar
Palavras incógnitas que aos poucos povoa
Desmembrando o incerto em poesia boa

Queria uma prosa extensa e potente
Mas só consigo o inverso, algo imponente
Em pequenos e belos versos
Que, em mim, se mantinha submersos

Antes fosse uma historia de amor
Ou contos de morte e dor
Que esta poesia sem alma
Sem teto, sem gosto, sem calma

Ó inspiração, por que me abandona
Encontraste outro senhor ou eu outra dona?
Estes amores passageiros sem paz
Só servem pra uns poucos momentos e nada mais

Que as musas me escutem
Que me lembrem e me ajudem
Escrever é meu querer
Meu calvário e meu prazer

E delicados dedos que bailam no ar
No teclado sapateiam a desenhar
Palavras incógnitas que aos poucos povoa
Desmembrando o incerto em poesia boa

Indagações e Provocações

Indagações e Provocações

Que eu posso querer?
O mundo cheio de mundos
As casas cheias de nada
As mentes sempre vazias

Que eu posso sonhar?
Quimeras, de tão feias, belas
Luares de tão cheios mares
Amores, dissabores, rancores

Que eu posso estudar?
Teoremas de poemas
Gráficos de abstrações
Ironias de problemas

Que eu posso crer?
Na morte no cinema
Na vida sempre curta
Na sorte das ciências

Que eu posso ser?
Ser, estar, fazer
Vir, ir, devir
Caso, acaso, casar

Que eu posso escutar?
Nada, tudo a mim me basta
Tudo, nada a mim me basta
Silêncio, o paradoxo, necessário ao ouvir

Que posso finalizar?
Um ponto
Umas reticências
Uma vírgula

Delírios do Ser/Estar/Fazer

Delírios do Ser/Estar/Fazer

Deixar passar
Transpassar e fluir
Deixar viver
Sobreviver ao devir

Deixar sonhar
Acordar e perceber
Deixar amar
Amarrar este querer

Deixar fingir
Figurar e distorcer
Deixar validar
Possuir e poder

Devorando-se a si mesmo
Percebendo-se outro aqui mesmo
E mesmo assim torna-se um
Um todo desfigurado e comum