domingo, 15 de dezembro de 2013

Sobre Gatos

Sobre Gatos


Dizem que os gatos são seres místicos que espantam os maus espíritos, os impedem de se aproximar de nossas casas. Dizem que os gatos têm uma ligação com a magia, com outros mundos, eles olham muito além. Dizem que os gatos podem percorrer outros mundos, ir ao mundo dos mortos e trazer mensagens aos vivos. Dizem que os gatos resguardam nossos sonhos, põem pra longe os pesadelos. Mas, também dizem que os gatos roubam nossa vitalidade enquanto dormimos. E, estranhamente, sinto que os gatos têm uma ligação comigo. Geração a geração de felinos, estes resguardam meus sonhos. Na medida em que os mais antigos se pendem em suas jornadas a outros mundos, outro felino de estimação toma seu lugar como guardião dos meus sonhos. Desde que me entendo por gente, há um deles dormindo ao meu lado. Costumeiramente, desperto com sua presença furtiva ao meu lado, ronronando sonhos e fantasias sem fim. Não sei, ao certo, qual o segredo deste mistério que se esconde por entre seu caminhar silencioso, do seu olhar passageiro, da sua presença matutina, apenas caminham entre nossos mundos, domesticando sonhos e pesadelos, meditando perto de mim.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Algumas Verdades Antes de Dormir

Algumas Verdades Antes de Dormir

O que há por trás desta vil carne não é nada de mais belo do que um cadáver pútrido. O que há são histórias não contadas, engolidas e amarradas na boca de um sapo. O que há são histórias que nunca ninguém deveria saber, mas se contam antes de dormir. Histórias que se queria esquecer.

O que se esconde por trás dessa língua de trapo são histórias mal contadas e embebidas em fel, mágoa e traição. A verdade que se pode diluir e ingerir é tão turva como água do esgoto mais profundo e profano que os olhos possam ver, ou crer. Verdades tão duras ouvidas, fervidas nas orelhas de uma criança, como um caldeirão de uma velha bruxa nazista.

E o que vem depois é um silêncio aterrador, tão profundo quanto os olhos e um moribundo a padecer. Segredos disfarçados de mentiras que se gostaria de crer. Segredos velados e gravados na alma crua e inocente, maculada. A vida que se passa como um filme de terror gutural dos anos ’80; frio e imoral, sem cortes ou censuras.

E o que fazer agora, senão escrever? Tentar disfarçar as amarguras do tempo... Revirar baús empoeirados de vidas, sem vida, dentro de si. E mergulhar num abismo triste, uma prisão silenciosa e sem fim de vícios... Vícios de mentir para si. E a certeza do apartamento vazio é menor que a certeza da solidão ingerida em comprimidos para dormir.

Meus ossos doem de frio. Meus temores os corroem. A boca seca busca engolir alguma saliva... E antes que eu me esqueça, sim, tudo isso eu vivi.

... Eu acredito no silêncio das crianças!


"Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita"

sábado, 2 de novembro de 2013

Sobre Poesias Rasas (ou A Veracidade por Trás das Falsas Estéticas)

Sobre Poesias Rasas (ou A Veracidade por Trás das Falsas Estéticas)

Paraliso diante da estética carniceira
Que não tem desejo, beleza ou amor
Que só busca atenção passageira
Que sofre brusca mudança de humor

Negociam sua beleza por filtros
Exorcizam toda forma de pudor
Reverenciam toda forma de conflitos
Que cause incerteza, asneira e rancor

Carnavalescos argumentos obscenos
Reduzem arte a rebuscamentos sem esplendor
Fraturam as palavras em remendos
“Adoecer, a dor é ser” imbecilizador

E no fundo todos satisfeitos
Se sentido profundos diante do balbuciador
Mentindo entender seus escritos e defeitos
De poesias rasas, ralas, fajutas sem cor

E paraliso diante da estética carniceira
Que não tem desejo, beleza ou amor
Que só busca atenção passageira
Que sofre brusca mudança de humor

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Pela Janela do Carro (ou Na Estrada)

Pela Janela do Carro (ou Na Estrada)

Quando vejo a mim mesmo
É quando me vejo na estrada
Me vejo em movimento
As coisas não parecem mais estáticas

Me deparo com uma velha cerca caída
Ou uma casa vazia e abandonada
Várias coisas perdidas no caminho
Refletem o imperativo do destino...

(O tempo não abandona nada!)

O asfalto que serpenteia a frente
Serpenteia tateando futuros além
Escondendo segredos de quem veio, foi, quem vem
Por cima de tudo o que já foi (areia, piçarra, calçamento e estrada)

A poeira do sapato, a poeira do caminho
Dizem de destinos que já tracei
Contam histórias que nem lembro
E outras histórias que abandonei

É no movimento da estrada
Que me vejo em coisas passageiras
Distante do ponto de partida e chegada
Partindo de mim mesmo sem meios, sem medos...

(Na estrada!)

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Sobre Fazer Poesia

Sobre Fazer Poesia

Passou-se (mais) um dia
Eu disse que faria...
Poesia
Não fiz!

Não doeu
Nem chorei
Nem sofri
Mas, também, não escrevi

E o silêncio...
Não atormenta
Nem acalenta
(Suspiro)

Passou-se (mais) um dia
Eu disse que faria
E fiz! (dessa vez)

Poesia...

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Unir Versos

Unir Versos

Meu corpo e a vastidão do universo
Teu corpo e os limites do sonhar
Desfazendo-se em luz e sombras
Multicoloridas e opacas acinzentadas

O céu é algo que se esconde
Milímetros acima de chão e poeira
Como um beijo, que se esconde
Por trás de malícias de tua pele

Onde está você que não vê
Que as estrelas danças sob nós
Que as nuvens são colchões d’água
E a chuva é uma cachoeira ambulante

O centro do universo entre nós
Em um abraçado mal dado, malvado
Dotado de ternura e amor
Rodopiando entre os sons da madrugada

Não há conto de fadas, nem floresta
Não a dogma religioso, nem paraíso
Não há ciência aplicada, nem métrica
Há apenas os limites de nossos corpos em colisão

(Universos...)

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Queixas

Queixas

Abandonar todos os sonhos
Limpar a poeira da sola
Sair das amargas trilhas
Tirar o pé da estrada

Esquecer os rabiscos na mesa
Apagar as tintas da parede
Fechar as cortinas no por de sol
Sofrer um pouco mais sozinho

Esboçar um sorriso frio
Desejar ‘bom dia’ sem graça
Admitir os erros cantando
Dormir sem sono em prantos

Desistir da vitória certa
Errar mais uma vez sem engano
Exibir a ferida aberta
Queixar-se de viver mais um ano

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Um Estranho Momento de Lucidez

Um Estranho Momento de Lucidez

O sal da tua pele em minha boca
O amargo gostoso que não desmanchou
O batom cor de rosa que marca
As feridas em minhas costas, que você deixou

O vinho derramado na parede
Alguns gemidos e meio tuas manhas
O batom borrado na cama, nos lençóis
Teus dentes, minha pele, tuas artimanhas

E delirar no teu mais simples toque
Firmar morada dentro no teu ser
Fingir verdades em meras mentiras
Delícias e malícias de prazer

Corpos que dançam sem melodia
Gemidos destilados no suor
Emaranhado de olhares e cabelos
Descansando em teus pelos e ao redor

Frenesi do encontro de paixões
De doçuras corrompidas em teus seios
A força do desejo que irrompe corações
A medida imperfeita do gozo devorado em seus meios

Foi mais uma noite de aventura
Enquanto adormeço em teus fugazes laços
Sussurra devaneios e outras desventuras
Mas, logo, amanheço solitário e sem teus braços

domingo, 4 de agosto de 2013

Não É Tempo de Poesia (ou Que Você Vai Ser Quando Crescer?)

Não É Tempo de Poesia (ou Que Você Vai Ser Quando Crescer?)

Sempre havia alguma coisa de certa
Alguma coisa certa em se fazer poesia
Era a rima, o gesto, a melodia

Sempre havia algo de sério
Algo tão próximo tão intimo, tão meu
Era a vida, o sonho, foi e se perdeu

Aquilo que era silêncio se tornava poesia
O cinza e seus tons, tudo florescia
Eram castelos de areia, que não se importavam
Com o vento, com as ondas, flutuavam

E veio o tempo em que tudo silencia
O beijo, a boca, a voz, eu... Esquecia
Que eram castelos de areia, que muito importavam
Mas veio o vento, as ondas, a vida e se apagaram

sábado, 20 de julho de 2013

Amantes

Amantes


Um grande amor é como um delírio, às vezes é preciso esquecer, pra quando menos se esperar, nos mínimos detalhes, que ele reapareça, reascenda, tome corpo, forma, gestos, sem por que, sem vê pra crê!

E é apenas pela maldade de estar ali, firme e forte... E cruel. É pra lembrar que estamos vivos e que temos um novo e velho motivo para sorrir e escrever, e chorar, e relembrar, e rever, velhos sentimentos no peito.

É como uma flor que caí, mas não murcha. É colhida com carinho e recato. É guardada no fundo, não num baú. No fundo do peito? No fundo de um livro, que conta histórias... Histórias que nunca se viu, distantes!

E o melhor, é uma poesia que não cabe na ponta do lápis, extrapola, tem que acontecer!
É um ato constante, um ato de querer. Desejo que não cessa a culpa... De viver!

Moinhos de Vento

Moinhos de Vento

Ti dedico meu corpo
Minha alma, minha vida
De tudo um pouco
Sem propor medida

Meu ser será teu lar
Se você me aquecer
Se você me deixar
Ti dar um pouco de prazer

Eu não prometo perfeição
Nem poesias retas
Posso te oferecer uma canção
E uma melodia nada correta

E meu corpo será teu templo
Minha respiração, teu tempo
Meu olhar, como o vento
Que vem ti envolve num momento

Ti dedico meu corpo
Minha alma, minha vida
De tudo um pouco
Sem propor medida

domingo, 14 de julho de 2013

Minha Tragicomédia

Minha Tragicomédia

Sei que você quer maltratar
Desfilando por toda cidade
Aos meus olhos, porta estandarte
Eu sei você quer me iludir de verdade

Não é querer brincar com coração
É seduzindo todas as partes
Arrematar uma nova paixão
Pra descartá-la no fim de uma tarde

Toda sua conversa é fiada
Faz parte de uma divina comédia
De menina bonita e engraçada

Todo seu papo é furado
Faz parte de uma antiga tragédia
De amores e dores e afagos

Sei que só quer se divertir
Eu sigo me esquivando
Quase aos teus pés implorando
Sinto que não vou resistir

Vejo na tela tuas fotos
Uma praia e um biquíni qualquer
Sinto que estou perdendo o foco
Fruto proibido vou te fazer mulher

Toda sua conversa é fiada
Faz parte de uma divina comédia
De menina bonita e engraçada

Todo seu papo é furado
Faz parte de uma antiga tragédia
De amores e dores, minha tragicomédia

sábado, 6 de julho de 2013

Há Olhos, Há Céus e Há Mar

Há Olhos, Há Céus e Há Mar

Moça bonita, debruçada na janela
Diga quanta luz, quantas estrelas
Quanta cor cabe nos teus olhos
Que não cabe na aquarela

Ah mar! Ah mar!
Se amar fosse tão fácil
O mar não teria ressacas
Não deixava marcas... (no olhar)

Maresia, olheiras, feridas abertas
Uma estranha bebida amarga
Uma turbulenta e ingrata ressaca
De um adeus, do mar, do amar, do amor, em cobertas

Mas moça, não se deixe enganar
Não deixe o nublado invadir tua íris
Não se deixe precipitar na chuva lá fora
Não vá embora, embora eu não te queira ver chorar!

Moça bonita, debruçada na janela
Diga quanta luz, quantas estrelas
Quanta cor cabe nos teus olhos
Que não cabe na aquarela...

domingo, 30 de junho de 2013

Antibudismo

Antibudismo

Quando nasceu o medo de errar?
Antes não havia medo, sequer possibilidade de erro.
Então, acerto!
Diante da possibilidade do segundo acerto, receio.
Mais uma vez, acerto!
Diante da possibilidade do terceiro acerto, medo.

Paraliso diante da tela, do tempo, do vento, de tudo.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Poesia Pro Dia de Amanhã (ou Vou Te Recitar Mais Tarde)

Poesia Pro Dia de Amanhã (ou Vou Te Recitar Mais Tarde)

Talvez eu não queira dormir
Talvez eu tema os sonhos
Sonhos ti roubariam de mim
São apenas horas que nos separam, afinal...

Pra que desperdiçar tempo
Tempo deitado, dormindo, sonhando
Tempo que eu poderia estar versando
Inventando algo para te encantar

Mas é verdade que irei deitar
Só estou aqui a fazer charme a mim mesmo
A imaginar o quão lindo é teu sorriso
E o quão mais lindo é ele de encontro ao meu

Ah, essas estradas que separam
Ah, essas estradas que unem
Não esperarei o amanhecer
Mas sei que ele iluminará teu sorriso

Sei que iluminará o nosso delírio
O delírio do asfalto cortando caminho
Cortando as horas e os motivos
Cortando tudo, até as flores que irei te dar

Talvez eu não queira dormir
Talvez eu tema os sonhos
Sonhos ti roubariam de mim
São apenas horas que nos separam, afinal...

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Devaneios Literários

Devaneios Literários

Dizem que o universo seria como um aquário com duas carpas nadando eternamente.
Dizem que o universo nasceu de um ovo gigante e que os homens já foram pulgas de um deus criador.
Dizem que o mundo que conhecemos foi moldado a partir de partes do corpo de um gigante, seus olhos seriam a lua e o sol.
Dizem que existia o vazio, que o mundo nasceu do encontro do fogo e do gelo, que o mundo, como conhecemos, foi criado do corpo de um gigante: o oceano seria seu sangue, a terra sua carne, pedras seus ossos, as nuvens seu cérebro...
Dizem que o mundo é um disco, sustentado por quatro elefantes, que vivem, por sua vez, sobre o casco de uma tartaruga gigante que flutua no espaço e além.
Dizem... Dizem muitas coisas, até ‘o universo nunca casca de nós’.

Eu gosto de pensar que o universo é uma xícara de café com cheirinho de manhã após se colocar açúcar e mexer!

domingo, 16 de junho de 2013

Universo Indecifrável

Universo Indecifrável

Escondo-me por trás dos óculos
Caminho pelas ruas solitário
Escondo-me nas sombras, pelos cantos
Finjo não ser apenas um otário

Dos corredores da faculdade
Aos labirintos de uma curta vida
Pareço me sentir a vontade
Apenas o modo de não expor as feridas

E o espelho não quer funcionar
Não há alguém a quem possa recorrer
Ilusões não vêm me anestesiar
Não há fantasias que eu queira viver

É apenas um espelho quebrado
Pequenos cacos de mim
Perdidos no universo indecifrável
Da dura existência de estar aqui

sábado, 15 de junho de 2013

Às Aulas da Saudade

Às Aulas da Saudade

Não lembro onde esqueci
Onde estão nossas lembranças
A carta que te escrevi
Coisas mais bobas de criança

Nem faz tanto tempo assim
Mas a vida tem dessas coisas
Encontros, desencontros e afins
Há fins e outras coisas, afins...

Mas não vamos nos desencantar
Há coisas a se cantar e viver, agora
Há coisas a se fazer...
A se fazer antes de ir embora

Mesmo que eu esqueça a data
O dia, o mês, a praça, o instante
Recordarei sempre algo
Bonito, besta e desinteressante

E mesmo que eu chore
Que as lagrimas rolem
Mesmo que meu coração implore
Sorridente, estarei e de coração mole

Estamos Indo de Volta pra Casa

Estamos Indo de Volta pra Casa

Textos e expressões
Palavras antes nunca ouvidas
Encontros, congressos e convenções
Paráfrases e referências esquecidas

Fins de semestres revolucionários
Um muro (toneladas) de teorias
Esquisitices e seminários
Textos e regras sem poesia

Aqui, tudo se misturava
Tudo se contradizia
Besteiras em uma só palavra
Cabendo tudo em “psicologia”

E quando tudo acabar
Terá sido o fim?
Para onde eu irei voltar
Aonde não há lugar pra mim?

Então, de repente o vento muda
Desisto da terra, abro asas
Suspendo tudo no ar, no nada
E estamos indo de volta pra casa

domingo, 19 de maio de 2013

Assobios da Chuva


Assobios da Chuva

As gotas de chuva caem
De encontro ao chão
Molham minha pele pálida
Rompem a solidão

Fervo um pouco de café
Com o cheiro de terra molhada
Ainda há nuvens lá em cima
E o ar cinzento da madrugada

Na vitrola, Bob Dylan
Em uma língua que não entendo
Vão-se notas e versos
Pensamento se movendo

Todos dormem em paz
E eu degusto café
Relembrando velhas histórias
Coisas de que já não tenho fé

E as gotas caem
Batem no portão
Não tocam meus olhos
Mas molham meu coração

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Corpo Egoísta


Corpo Egoísta

Meu corpo grita
Minha pele se retorce
Minha saliva escorre
Meus olhos dilatam

Não se trata de drogas
Se trata de faltas
De fatos, de ódio
E de amor

Frases românticas
Ânsia de vômito
Músicas bonitas
Eu fico tonto

Dane-se seu otimismo
Danem-se as causas ambientais
Eu preciso sentir
Eu preciso mais de mim

Todo sentido e beleza se esvaem
O que eu preciso é real
Quente e envolvente
Ah, viver é tão impossível!

O que eu quero, quero agora
Não em outros tempos
Meu corpo grita
Meu corpo sente...

Danem-se os rituais
Danem-se flores e chocolate
Vinho e suor
Até o sol se por (se opor)

domingo, 5 de maio de 2013

A Vida em Piloto Automático


A Vida em Piloto Automático

Datas para entrega de relatório. Data de supervisão. Datas no calendário.
Horários de atendimentos. Remarcar. Ausência. Ligações. Burocracias.
Artigos, livros, fichamentos, prontuários... Cadê meu caderno de anotações?
Atrasos, insônia, ressentimento. Despertador!
Corre-corre. “Não vai dar tempo!”. Acabou...
Frustração!

Às vezes perdido no tempo, meditando sob o ponteiro do relógio. Dançando na ponta da agulha, no fio da navalha. Perdido de mim mesmo boa parte do momento, do instante, já foi!

Vivendo a vida em piloto automático, tentando dar tempo ao tempo, tentando dar conta dos momentos, situações, faculdade, amigos, família, livros, trabalho, ufa! Namorada, cadê?

E o que é preciso fazer?
Suspender a vida!

Parar tudo: não pensar, não sentir, não correr, nada! Pura e simplesmente, apenas, respirar. Música como pano de fundo, deitar o corpo ao chão e deixar o universo se desintegrar na vertigem do fim dos tempos... Devaneios de respiração!

Quando paramos, sentimos o mundo girar. Suspendemos nosso movimento e podemos então ver o que não se via, pois acompanhávamos o mundo em seu fluxo incessante, enxergamos o invisível.

Paralaxe de si pra si por si consigo!

As vozes do mundo se calam! Não há uma só palavra, não há verbo, apenas respiração.
Percebemos que naquele fluxo da vida não estávamos no comando do barco, mas sim as metas, datas, horários, trabalhos, outros. Estes dominavam nossos fazeres (responsáveis). 
Mas onde sou eu?

A Vida em Piloto Automático!

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Tempo Estático


Tempo Estático

A poesia que existe em mim está de férias
Feridas abertas rasgam o papel
Passam tempos buscando sentidos
Se os tiro de dentro ou de fora de mim

Em parte, se é que se pode dizer assim
Sinto-me vazio e vagando pensamentos
Pesados presságios de uma alegria que nunca foi
Folhas que caem secas dum galho

Ciclos da vida em fim de tarde
Tardam nuvens que se perdem cinzas
Se é que se perdem apenas de mim
Mistérios que me tornam longe, distante

Por onde andará aquela antiga paixão
Para viver intensamente cada migalha de tempo?
Tempestade de sentidos e devaneios que me abandonam
Abatido como um ponteiro de relógio sem movimento

Copo Meio Cheio


Copo Meio Cheio

Horizonte pálido, e nós
Vivendo um dia a cada instante
Tudo permanece em seu lugar
Repetidamente e incessante

Os louros de outrora
Hoje são insignificantes
O café quente esfria
Diplomas e títulos na estante

Mas o mundo não parece parar
A ilusão da mudança
O mundo não cansa de girar
Como um filme, meras lembranças

Melancolia de meio de vida
Meio da rua e esquina
Bares fechados, entediados
Sensações que não se ensina

Sempre haverá um amanhã
E tudo permanecerá normal
O sol já vem amanhecendo
Iluminando meu tédio monumental

terça-feira, 30 de abril de 2013

Quase Um Cordel (ou Pena que eu Não Levo Jeito pra Cordel)


Quase Um Cordel (ou Pena que Eu Não Levo Jeito pra Cordel)

Meus olhos choram
Choro de retirante
Choro de terra ferida
Choro dos desinteressantes

Meu peito sonha
Sonho de chuva fresca
Sonho de molhar a terra
Sonho de fim de seca

Meu coração canta
Canto de passarinho
Canto no sertão e sabiá
Canto de uva e de vinho

Meus olhos chovem
Chuva de lágrimas de infância
Chuva de banho de bica
Chuva de inverno e abundância

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Paradoxo da Poesia

Paradoxo da Poesia

Há muito tempo eu busco fazer poesias simples, pequenas, delicadas, mas nada me parece caber em poucas palavras. Sinto-me inclinado aos excessos. Faço rimas e prosas, mas não alcanço a perfeita sintonia que busco. Exagero nas metáforas, nada parece fazer sentido. Palavras bonitas jogadas aleatoriamente, como lance de dados. Ontem à noite eu tive um sonho, e dele, por fim, veio-me a inspiração: Não dizer absolutamente nada, apenas o tempo de um suspiro, fechar os olhos, após o encontro de teus olhos, beijar-te e dizer “eu te amo!”. Nada mais precisará fazer sentido, ser dito, rimar, as frases poderão ser clichê, mas o sentimento que vai tamborilar em nossos peitos serão a única poesia sinfônica a ser ouvida no silencio de nossos lábios...

Droga, fiz de novo, os excessos das palavras!

sábado, 20 de abril de 2013

O Declínio da Carta XVI (ou Manifesto Contra a Torre de Marfim)

O Declínio da Carta XVI (ou Manifesto Contra a Torre de Marfim)

Em jogos de cartas marcadas, eu subverto a ordem, eu inverto os temas, eu invento a roda. Não é preciso ir muito além para se descobrir uma teia de aranha, uma teia digital, que nos prende (ou tenta nos prender), nos limitar as asas, mas não nos cansamos de voar! Ateamos fogo contra a teia que nos prende e chamuscados abrimos asas, abrimos voo em decadência, e em ultimo instante em cena, nos revelamos fênix e vitória! Afinal, a magia nasce da necessidade!

Não será por seguir o som de seus passos que poderemos vislumbrar o horizonte... Queremos sempre ir além, além da máquina, das maquinarias, de um horizonte holográfico, queremos fingir tocar com ímpeto o firmamento. Somos deuses que nasceram da carne do homem, somos homens que provieram das ideias dos deuses. Somos encarnação de um canto muito antigo e há muito esquecido, somos magos ordinários em tempos de pessimismo colorido, dolorido e extasiado, que nega a dor de existir e anestesia a tentativa de inventar um mundo novo (mas não a Nova Ordem Mundial)!

Somos a semente, que ninguém plantou. Somos o fruto, que ninguém degustou. Somos a árvores, que ninguém abraçou. Somos caminho ainda a ser feito! Ouça o som da minha voz, mas não siga meus passos. Ouça o apelo do mundo, mas não curve diante dele. Ouça o tempo girando, descendo e rodando sem fim, mas não se perca nele.

Desperte!

Mesmo assim, talvez você queira jogar o jogo das cartas marcadas, nada impede. Cada um que faça seu caminho, mas há um pedido, um único imperativo que vale a pena ser escutado e seguido:

E agora vão, e cometam erros interessantes, cometam erros maravilhosos, façam erros gloriosos e fantásticos. Quebrem regras. Façam do mundo um lugar mais interessante por vocês estarem aqui. Façam boa arte!”*

* Trecho retirado de um discurso proferido por Neil Gaiman. Escolhido por mim por parecer um bom devaneio!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

A Gota D’água


A Gota D’água

A gota d’água
Cai do infinito e além
A gota d’água molha o rosto de alguém
E tudo se espalha
Em tons de cinza
E o frio do ar
Nos deixa um tanto ranzinzas
A chuva não para
Não sabe onde vai parar
Não para de chover
E aqui dentro chora
O barco se nega a navegar
E a deriva no oceano em pranto
Se perde em ondas de mágoa
Coisas que magoam, pessoas
Coisas que machucam, angústia
Angústia de viver... e de amar
E amando vamos nos desfazendo em lágrimas
A gota d’água que cai do infinito ar

sábado, 13 de abril de 2013

Aquilo que Sonho que Sou!


Aquilo que Sonho que Sou!

A parte mais forte de mim, talvez a mais vulnerável, é aquilo que sonho que sou!

É o escritor. É o contador de histórias. É o amante. É o herói. É o sonhador.
É tudo aquilo que se guarda sob minha carne. É tudo aquilo que sustenta meus ossos. É tudo aquilo que flui com meu sangue!
Sustentar os sonhos aos olhos do mundo talvez seja um fardo complicado, daí meu temor em descompasso com meu sonhar! Tornar-se aquilo que se quer é responder com responsabilidade àquilo que se sonha. Seria, então, assim tão fácil ser escritor, contador de histórias, amante, herói e sonhador se na primeira falha aos olhos do mundo, como ceifador, marcará nossas carnes?
Mascaras se sustentam leves, medos se sustentam acomodados, sonhos, por outro lado, são uma responsabilidade que ardem como fogo no peito!
Deveria eu sonhar junto ao mundo e assumir passo a passo o meu incessante desejo? Lograr em batalha diária meus sonhos a fio?
Quando chegará a hora do guerreiro brandir sua espada e cortar o véu da realidade?

Ainda assim, a parte mais forte de mim, talvez a mais vulnerável, é aquilo que sonho que sou!
É o escritor. É o contador de histórias. É o amante. É o herói. É o sonhador!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Poesia Concretinha


Poesia Concretinha

A tela do computador
Não reflete a luz dos teus olhos
Nem mesmo a lua
Consegue imitá-los

As ondas do mar
Não mexem como teus cabelos
Ondas que embalam
Meus desejos e medos

As nuvens do céu
Não parecem tão distantes
Quando penso em você
E enxergo o horizonte

Meus pensamentos e palavras
Não me acalmam como teu colo
Não me afagam, não me agradam
Sem teu amor, não me consolo

Repito


Repito

Palavras
Meu templo
Minha danação

Palavras
Minha respiração
Minha fantasia

Palavras
Meus instrumentos
Meus delírios

Palavras
Frases ao vento
Pés no chão

Palavras
Alguns sentimentos
Caneta na mão

domingo, 7 de abril de 2013

Poesia Precisa


Poesia Precisa

Preciso te mostrar
O que vai além dos teus olhos
São delicados sonhos e devaneios
Do teu pomar, eu colho

Gosto de me imaginar
De me perder em ti
Nos teus olhos, teus cabelos
Nos teus modos de me iludir

Não é que eu me prenda
Não se trata de uma prisão
É me encantar com teu corpo
Teus movimentos, tua sedução

É que há tanta poesia em ti
Que é difícil definir o abstrato
Explicar teus dons e delicias
Seria reduzi-la a um mero retrato

Apenas aceite esta singela poesia
Estes pequenos truques e flerte
Mas há pecado em desejar
Teus doces beijos a meu deleite? 

quinta-feira, 21 de março de 2013

Impasses de um Relacionamento Maduro (ou Poesia Tão Longa e Enfadonha quanto o Dia a Dia)


Impasses de um Relacionamento Maduro (ou Poesia Tão Longa e Enfadonha quanto o Dia a Dia)

I

O centro do teu umbigo
O centro do universo
Algumas horas abrigo
Em outras o inverso

É como a chuva lá fora
Às vezes livre aconchego
E em outras horas
O frio é de tira o sossego

Caminhamos na vida
No alcance de nossos passos
Às vezes na mesma medida
Em outras, descompasso

II

O centro do meu umbigo
O centro do universo
Algumas vezes abrigo
Em outras o inverso

É como o sol lá fora
Que vem iluminar
E em outras horas
Só nos lembra de trabalhar

Navegamos nossos dias
Ao sabor dos ventos
Às vezes calmaria
Tempestade em outros momentos

III

O centro, nosso umbigo
O centro, nosso universo
Às vezes inimigos
Outras poesias e versos

domingo, 10 de março de 2013

Versos Antes de Dormir


Versos Antes de Dormir

Ando por aí
Em lugar qualquer
Perdido entre as borboletas
Atrás de um bem-me-quer

Eu sei que o mundo
Não cabe em meu vocabulário
Mas sempre há uma luz nova
Entre as estrelas de um planetário

E onde estarão meus olhos de vidro
Que me faziam enxergar
As coisas, as cores do mundo
Tua boca, teu sorriso e teu olhar

Enfim, fechar os olhos
E me descansar na escuridão
Esquecer a fantasia do dia a dia
Cair nas armadilhas do meu coração

domingo, 27 de janeiro de 2013

Degradê


Degradê

Ao menos sonhar
Mais que tudo
É preciso
Viver

Ao menos amar
Mais que tudo
É preciso
Manter

Ao menos criar
Mais que tudo
É preciso
Regar

Ao menos fingir
Mais que tudo
É preciso
Ser

Ao menos, pelo menos
Mais uma vez, apenas
Deixe-se partir e chegar
Feliz

E o Tempo do Mundo


E o Tempo do Mundo

Eu era pura timidez
Olhares esquivos
Voz sem sentido

Eu era pura fluidez
Movimentos furtivos
Toque contido

Mas, então, veio a alvorada
E o tempo do mundo
E varreu meu antigo eu
Me tornou profundo

Eu era pura solidez
Gestos evasivos
Modos fingidos

Eu era pura rigidez
Fazeres indecisos
Pensar perdido

Mas, então, veio a madrugada
E o tempo do mundo
E varreu meu antigo eu
E agora eu me procuro

Café e Orvalho


Café e Orvalho

O café amargo nos lábios
O orvalho da manhã
O mundo tão parado
E algumas poesias vãs

O dia vem raiando
Espantando toda sombra
Toda sombra de dúvida
De que o dia vai nascer

As nuvens se movem
Pra longe de mim
A lua se esconde além
E a insônia sem fim

Até que ponto benção
Até que ponto maldição
Versar poemas frágeis
No frescor da manhã?

O lençol que não me aquece
A ferida que não dói
O retrato sempre estático
E o sentimento que não foi

Há Quase 10 anos

Há Quase 10 anos

As promessas eram tantas
Mundo que cabia em uma mão
Os mistérios eram claros
E, ainda, tão raros

Cada dia uma nova descoberta
Um novo por do sol
Uma nova lua cheia
E o contraponto de um farol

As ondas se moviam
Cavalgando as rochas
Velhas escadarias
Algumas lendas e fantasias

A descoberta do beijo
O toque quente da pele
O torpor e uns goles
O devaneio de corações moles

Eram raros os dias tristes
Eram ricos os dias felizes
E era o tempo de florescer a pele
E o desfazer de uma bruma leve