Entre Paraísos Artificiais
e um Cotidiano Mundano
Eu costumo alimentar os gatos que vivem perto da minha rua.
Eu confesso que me sinto levemente estranho, meio que mais humano. É como se eu
me reconectasse com algo bem íntimo meu, meio esquecido e empoeirado. Depois de
anos estudando teorias sobre subjetividade e construções políticas do eu, fica
difícil olhar o mundo com outros olhos, outras formas mais leves e puras (se é
que existe uma pureza).
Acontece que me sinto levemente mais humano, mais inteiro,
como me reconectando com demais formas de vida, ancestralidade, sei lá. Aceitem
meus segundos de piração! Bom, é como tomar um café em uma mercearia antiga,
cheia de prateleiras velhas. É como olhar pela janela os pingos de chuva que
caem do céu de encontro ao chão. É como observar as ondas que batem na pedra.
São estes momentos singulares e bem simples, que não precisam de muita
explicação, apenas estar ali presente!
Quando falo em paraísos artificiais, falo dos espaços
coletivos entre companheiros de conspiração e amor. Aqueles espaços construídos
intersubjetivamente mesmo, palavra grosso
modo, e que compartilhamos idéias, às vezes comida e bebida... No fim das
contas, dividimos um tempo de nossa existência para está ali presente com
outros. Mas existem fatos cotidianos bem mundanos que nos jogam pra longe da
necessidade da presença física de outros e suas regras sociais para nos
sentirmos inteiros e parte de um coletivo chamado universo. Como uma risada
gostosa depois de uma piada boba, como observar um animalzinho dormir, como o
prazer no cheiro de terra molhada.
De certo, não sei explicar, só sentir! E sinto muito se você
não entendeu, talvez não estejamos tão conectados, mas podemos tentar. Posso te
contar sobre minha vida, você sobre a sua, podemos tomar um suco ou café, um
vinho, talvez. Podemos estar presentes em algo que estamos fazendo e está
presente tem sido algo extremamente raro. Estamos muito ludibriados pelos
nossos paraísos artificiais, mas tão pouco atentos ao nosso cotidiano mundano.
Sei lá, vai ser isto tudo não faz sentido algo e é apenas
mais um devaneio!
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