segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O amor pós-convencional em Cazuza

O amor pós-convencional em Cazuza


Não é incomum as pessoas se escandalizarem frente a crueza de algumas baladas de Cazuza. Podemos inclusive pensar que não há romantismo em suas letras, posto que algumas explicitam relacionamentos infiéis ou simplesmente pelo fato de sexualizar temas que são tratados com maior lirismo.

Nesta manhã de segunda -feira, a música "o nosso amor a gente inventa" não saiu da minha cabeça até que eu a ouvisse mais de dez vezes. Após suas discretas repetições, cheguei a conclusão que Cazuza é um ícone do romantismo pós-convencional. Cazuza não é um John do romantismo lírico, não é um trovador solitário com Renato. Cazuza é um poeta do dia a dia, dos detalhes da vida.

Por exemplo, enquanto Renato se pergunta "quem inventou o amor?", Cazuza tem a resposta na ponta da língua: somos nós! Porém, a ambigüidade, possivelmente, proposital nos faz crer que o inventando é algo de mentira, irreal, falso, impuro. Porém, minha interpretação desta manhã é que esta talvez seja uma das músicas mais românticas de Cazuza, uma das mais sinceras...

Quem nunca quis odiar seus amores, quis desistir de um relacionamento, culpou a falta de amor (quem inventou?)... Acontece que amor é algo que se faz, inclusive na cama, de modo mais humano e carnal possível. Pra mim, este amor inventado é a tentativa de reconstruir algo bom para os dois membros do casal, ou criar algo novo, algo que os mantenha unidos. É afirmar que o amor não é algo dado, divino e maravilhoso, mas é algo feito, construído, humano, suado e trabalhoso!

Acho que o modo como as pessoas se escandalizam com as letras de Cazuza é que há muita sinceridade nelas, para o bem e para o mal. Afinal, o mal é bom e o bem cruel. Ou seja, defendo aqui que os melhores amores não são os líricos, os apaixonados, mas os pós-convencionais, os que fogem as regras, os verdadeiros, os amores que se encontra de verdade em qualquer lugar.

"O nosso amor a gente inventa" me parece um grito de liberdade não desistir de um relacionamento concreto, em que às vezes enjoamos um ao outro e que, mesmo assim, não é porque acabou o romantismo vitoriano que temos que nos deixar, mas podemos inventar!

E eu adoro um amor inventado!