O amor pós-convencional em Cazuza
Não é incomum as pessoas se escandalizarem frente a crueza
de algumas baladas de Cazuza. Podemos inclusive pensar que não há romantismo em
suas letras, posto que algumas explicitam relacionamentos infiéis ou simplesmente
pelo fato de sexualizar temas que são tratados com maior lirismo.
Nesta manhã de segunda -feira, a música "o nosso amor a
gente inventa" não saiu da minha cabeça até que eu a ouvisse mais de dez
vezes. Após suas discretas repetições, cheguei a conclusão que Cazuza é um
ícone do romantismo pós-convencional. Cazuza não é um John do romantismo
lírico, não é um trovador solitário com Renato. Cazuza é um poeta do dia a dia,
dos detalhes da vida.
Por exemplo, enquanto Renato se pergunta "quem inventou
o amor?", Cazuza tem a resposta na ponta da língua: somos nós! Porém, a ambigüidade,
possivelmente, proposital nos faz crer que o inventando é algo de mentira,
irreal, falso, impuro. Porém, minha interpretação desta manhã é que esta talvez
seja uma das músicas mais românticas de Cazuza, uma das mais sinceras...
Quem nunca quis odiar seus amores, quis desistir de um
relacionamento, culpou a falta de amor (quem inventou?)... Acontece que amor é
algo que se faz, inclusive na cama, de modo mais humano e carnal possível. Pra
mim, este amor inventado é a tentativa de reconstruir algo bom para os dois
membros do casal, ou criar algo novo, algo que os mantenha unidos. É afirmar
que o amor não é algo dado, divino e maravilhoso, mas é algo feito, construído,
humano, suado e trabalhoso!
Acho que o modo como as pessoas se escandalizam com as
letras de Cazuza é que há muita sinceridade nelas, para o bem e para o mal.
Afinal, o mal é bom e o bem cruel. Ou seja, defendo aqui que os melhores amores
não são os líricos, os apaixonados, mas os pós-convencionais, os que fogem as
regras, os verdadeiros, os amores que se encontra de verdade em qualquer lugar.
"O nosso amor a gente inventa" me parece um grito
de liberdade não desistir de um relacionamento concreto, em que às vezes
enjoamos um ao outro e que, mesmo assim, não é porque acabou o romantismo
vitoriano que temos que nos deixar, mas podemos inventar!
E eu adoro um amor inventado!