quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

As madrugadas, hoje, são tão normais.

As madrugadas, hoje, são tão normais.

As madrugadas de hoje são de insônia, as de antes eram de “não dormir”, era um mundo fabuloso! Nossas madrugadas eram nosso refugio de nossos deveres estudantis, ou, simplesmente, não eram nada, apenas uma desculpa para ser feliz. Um meio para nos divertir!

Não precisávamos de tema especial, data de nascimento ou convite incomum para infligir umas leis, umas normas, levemente, quebrar algumas regras. Nada tinha um gosto mais doce do que fugir pelos portões daquele pensionato. Nada era mais belo, bobo, simples e cheio de vida.

Fingir dormir. Escorregar entre os lençóis. Convidar os demais pra sair. Estes já estarem esperando e se perguntando se você tinha desistido de fugir, sumir no mundo... Olhar pela janela e verificar se a ala feminina já havia roubado as chaves. Descer as escadas, e cambalear por entre umas cadeiras. O ranger da porta, o silencio forçado do portão: liberdade!

Entre os dedos garrafas de bebida, cigarros, sorrisos e uma vontade irresistível de não pensar em nada, apenas viver! Cada gole, cada tragada, a vida se diluindo em nossas veias, em pequenas doses de pecado e mentiras... Afinal, mentíamos não nos preocupar com nada.

Rolar na grama, correr, cantar, pular, tudo em alegria, sem medo ou censura! Éramos o que se pode chamar de filhos da noite, meninos perdidos, jovens degenerados, rebeldes sem causa, ou, simplesmente, pequenos vândalos...

Claro que ocorriam efeitos colaterais: faltar umas aulas, ressaca, entre outras coisas como, o mais divertido, deixar o velho Petruz louco de raiva junto de seu sotaque carregado de um holandês forçado, posto que este era um poliglota! Descanse em paz jovem Petruz que tanto nos aturou... Reza a lenda que ele só conseguiu morrer depois que cada um de nós, finalmente, havia deixado seu estabelecimento. Só assim garantia que não o virássemos de cabeça a baixo!

Eram bons dias, aliás, belas madrugadas, que nos acolhiam com seus mantos negros e gentis! Todo anoitecer era um convite a festa, sem pressa, sem tema, apenas fonemas: “bó?!”.

Enfim, um copo de vinho, um frio, um silêncio e minhas verdades. Não guardo fotografias, mas muitas lembranças! Hoje as noites são tão iguais, tão previsíveis, tão apáticas. As madrugadas, hoje, são tão normais!

Sei que estes relatos nunca superarão os sentidos que me vem ao corpo quando lembro tudo o que vivi, vi e aprendi, como é possível ser feliz em tão curto espaço de tempo, sem pretensões maiores de ser, apenas viver!

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