Sonho ou Delírio?
Há uma ilusão quando buscamos definir a vida como algo. “A
vida é bela”, “A vida é esforço”, “A vida é sofrer” são trilhas obscuras sobre
o inimaginável futuro que tentamos tatear. Quando tentamos definir o que a vida
é, não estamos tentando dizer algo sobre o que foi vivido, estamos tentando, sim,
é espantar os medos do “incontrolável”, estamos tentando definir o futuro.
Por trás de cada afirmação, há em segredo, uma regra. Somos
entupidos de regras sobre tudo na vida, desde como devemos gastar nosso
dinheiro até como devemos sorrir. Quase não há espaço para experimentar o
inesperável. Quando algo inesperável é prazeroso, aceitamos. Quando algo
inesperado é desastroso, nos desesperamos. A felicidade nos inebria, confunde.
A tristeza nos deixa atentos, desperta nossa atenção para algo que pode estar
errado. Friso o “pode estar errado” porque certo e errado não são nada mais
nada menos que adjetivos que damos a eventos no mundo tentando captura-los e
impingir uma certa ordem. Bom, quando algo desprazeroso ocorre somos tomados de
espanto. Fomos criados em um mundo que tenta negar a todo custo à dor. Não
estou, no entanto, advogando em prol do sofrimento. Longe de mim dizer que
viver é sofrer, mas viver não é só prazer...
Não entendo o Zen, nunca li nada sobre o Tao. No entanto,
acho que isso só me traria arrogância e orgulho. Tenho algumas experiências
soltas e umas imaginações férteis. Sinto falta de determinadas formas de ser e
viver que me traziam paz, tenho encontrado outras formas de ser e viver a paz.
Não há harmonia no mundo, não há desordem, apenas há o mundo. Abandonar certas
concepções é abandonar a si. As coordenadas pelas quais nos orientamos e
orientamos decisões são baseadas nestas regras sociais, que aos poucos nós
mesmos sussurramos a nós. Abandona estas pré-concepções é uma forma de viver um
modo de abandono.
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