Uma breve, realmente breve, explicação sobre a humanidade...
Afinal, o que nos divide do rebanho e da verdade? Por que estamos tão mergulhados em ritos místicos, mesmo os que são maquiados de forma categórica, tidos como ritos de passagem, na era contemporânea? Por que nos apegamos tanto a tudo o que nos rodeia se tudo tende ao pó, pois é ao pó que voltarás?
Para alguém que tem a eternidade essas mudanças-rituais se tornam um banquete para os interessados em escárnio para com os desafortunados sem a imortalidade. Eles vagam num mundo finito e cheio de porquês tolos que os prendem a um mundo de mentiras infantis, de rituais sociais que se dissipam quando o importante é sobreviver. E é exatamente isso que fazemos, é por isso que nos diferenciamos tanto dos humanos: nós sabemos que sobrevivemos e tentamos sobreviver a todo custo.
Enquanto isso os símios ficam dançando em volta de suas novas fogueiras, que antes produziam carvão e servia para espantar os predadores da noite (fico imaginando quem eram os “predadores” principais na noite...), enquanto nos dias contemporâneos eles dançam em volta de maquininhas digitais, para espantar o medo da solidão, e sim, a solidão é a nova porta de entrada na vida de uma boa caça, um predador astuto sabe disso.
Por que perder tempo com pessoas com vínculos profundos na sociedade, estas sempre causam problemas, pois os familiares tendem a criar investigações. Melhor é caçar os desafortunados que tem como companheira intima a solidão.
Voltando ao assunto de ritos de passagem, para nós, criaturas imortais, logo superiores, temos apenas dois ritos: o beijo e o abraço.
Sendo que o beijo muitos já devem saber no que consiste.. Consiste em beber o sangue do futuro imortal e dar de presente um pouco do seu proprio para o infeliz morto de fome (que ironia, “morto”...) se alimentar. Já o abraço consiste em um trabalho árduo e nem sempre gratificante, pois enquanto uns são abraçados sem ter consciência do que se tornaram e, normalmente, esses têm vida curta, devido a cometerem deslizes, como atacar velhinhas nas ruas para saciar sua fome. Os que sabem da verdade antes do beijo ficam fadados a possíveis acessos de loucura, pois é complicado escolher entre morrer e viver para sempre, é claro que por um belo preço módico de evitar o sol, ser atacado por animais, beber sangue...
Enfim, são rituais, menos bobos do que os produzidos pela raça inferior, humanos, pois eles se preocupam com se alfabetizar, com a festa de debutante, com a maioridade, com o primeiro vestibular, entrar na faculdade, primeiro beijo, sempre preocupados com os primeiros, sempre preocupado com as mudanças que os primeiros causam quanto a nós, preocupamo-nos com a eternidade, o estar por vir...
Os “primeiros” não significam nada, a não ser uma mera lembrança fraca e perdida no tempo, não tem valor o primeiro, pois não somos finitos, não temos por que nos apegar tanto a essas lembranças casuais do dia-a-dia, ou melhor, de década-em-década.
Mas algo é importante ser dito, mesmo entre nós imortais, existem diferenças sutis, e existem diferentes tipos de imortais, suas realidades e culturas, de onde vieram...
Então, lembre-se bem de minhas palavras, criança, se você quer sobreviver neste mundo você tem que ter consciência que sempre se sabe menos do que se precisa, e que existem muitos mais mistérios do que os que já aprendemos a decifrar.
Sabe por que eu o escolhi para ser meu aprendiz? Apesar de você ter muitas ligações com a sociedade em seus diferentes meios, você não se prende a ela, não se prende a suas regras e normas, você se escamoteia entre tudo e todos, você é um verdadeiro camaleão, um caçador nato. Dentre os humanos sempre aparecem criaturas como você, que compreendem que se prender demais aos laços afetivos e culturais é uma armadilha para a compreensão da vida, ou não-vida, depende do momento em que se está.
Mas o fato é que você mantém seus laços ao mesmo tempo em que não se prende a eles como uma verdade, mas algo que o constitui como ser humano, não coloca os valores acima da razão. Você compreende que tudo isso a sua volta não passa de uma invenção humana, um sonho compartilhado, um sonho sonhado em conjunto. Agora vá! Fazer estes discursos sobre a mediocridade humana cansa, existem imortais que já o fazem há séculos e nunca acabam os temas e acontecimentos factuais para que se possa debochar da humanidade.
E mais uma coisa, não se esqueça: você vive em dois mundos e para o bem de ambos os mundos, mantenha-se atento e de boca fechada, afinal vampiros não existem e nós estamos de olho em você, por mais que queríamos você ao nosso lado, sabemos que você não deixa de ser um símio e pior, mesmo entre nós a traição é a melhor arma de sobrevivência, às vezes as adagas usadas nas mortes de nossos inimigos políticos tem uma assinatura com a seguinte frase: “com amor...”
Nenhum comentário:
Postar um comentário