Deserto de Mim
A cada dia procuro me reencontrar: Quem sou
eu? Aonde vou? De onde vim?
Crio narrativas, condenso histórias,
reinvento meu mito! Mas há momentos que nada disso faz sentido, tudo se dilui
em pequenos fragmentos de desilusão sobre si... Cada máscara, que eu não
conhecia, cada disfarce, cada adereço, se perde em um vácuo temporal do
instante! Quem eu creia ser, não é, e o outro me constitui, é parte de mim, e
quando o outro cai, eu caiu. Se o outro usava máscaras, a minha face real seria
uma máscara, mas não no sentido de ser eu falso, mas a relação ser falsa. Não
condizemos como o que pretendíamos, logo somos estranhos entre si! Sendo assim,
enquanto me percebo como palco, autor e ator de minha vida/história, percebo-me
um deserto onde pequenas baforadas de vento criam redemoinhos e miragens que me
fazem crer quem sou, que são e quem virão, mas quando chega a calmaria, e não o
furacão, contraditoriamente, tudo se esvai, sobrando apenas o tempo real: o
impacto do instante!
Não sou caçador de mim, mas um infinito
intangível, impalpável, indolor que eu finjo sentir... Relendo este texto,
percebo que, nada, nenhuma só palavra vai descrever ou tocar o que sinto, pois
isso que se “é” é efêmero e cada momento uma nova faceta mistificada sob o
signo do que um dia fui e não de quem serei ou posso ser. Sendo assim, só me
resta este deserto a que devo vagar sem rumo, direção, a esmo. Eu deserto de
mim!
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