Mistérios Sempre Existirão
Uma vez li em um livro de perspectiva junguiana algo sobre
alquimia, que se remetia ao processo de autoconhecimento, perceber-se e mudar o
que foi percebido. Dividia-se o processo de mudança em três períodos, como os
três estágios alquímicos para a perfeição, metaforizados na figura da Fênix:
nigredo, albedo e rubedo.
Uma vez, um professor ministrava sua aula e utilizou como
metáfora a figura de Siddharta Buddha em sua busca pelo Nirvana, no qual
derrotar a si mesmo seria necessário para alcançar a iluminação. Se despir de
todos seus conceitos e preconceitos sobre si para mudar. Se despir de toda
audácia e orgulho, planos, se deixar a deriva!
Este estado de nigredo, olhar pra si e ver refletidos os
maus que não se desejava sobre si é um período conturbado e muito fácil de
fugirmos. Nada é mais difícil do que nos percebermos como a origem de nosso
mal. Percebermos que nos mantemos presos a nossas contingências e as
naturalizamos como culpadas, quando nós poderíamos modificá-las. Alcançar a
purificação, mudando um a um os delírios de si, banalizados no cotidiano. Alçar
voou como Fênix deixando queimar-se no rubedo...
Há muitas metáforas que se pode usar para compreender este
movimento nosso no mundo e como mudamos (ou não) em suas revoluções...
Algo interessantíssimo sobre o ser humano é que só nos
percebemos a partir do outro, do contraponto de quem somos, do inominável
desconhecido do dia-a-dia.
Que me venham boas contingências, se não vierem, que eu as
construa. Que em sua construção não caia em hubris, se eu cair, que hajam olhos
nervosos a denunciar e que eu reflita em suas íris, como espelho, aquele eu que
me mostro em um instante, fugaz. Que no momento seguinte, eu me mostre outro
outro de mim, que sou agora.
Que eu consiga despertar a irá dos deuses por me orgulhar de
meus erros e elogiar meus pesadelos, pois dos prazeres da carne, eu danço em
delírio...
Deus um delírio? Eu um delírio!
E grandes mistérios sempre existirão!
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