sábado, 25 de agosto de 2012

Morte


Morte

A vela que cai. O ultimo sopro de vida... Silêncio!

Olhos atentos que velavam o corpo na rede. Um pequeno corpo frágil e quieto. Uma pequena casa de taipa e barro, humilde e aconchegante, cheia de personalidade. A certeza de algo que não se queria, mas deveria ocorrer. O ciclo... O final de um ciclo e o esboço de um pequeno sorriso, que compreendia a vida e a morte. Sorriso dos antigos, que não teme à hora chegada. O sorriso de quem viveu uma vida bem vivida.

Mesmo com tantos em volta, a casa parecia vazia. Aquela que a habitava já não se encontrava mais ali. O silêncio preenchia o ar. A tristeza se mesclava com a certeza do momento, que já se sabia que viria, mas nunca se desejaria.

A perda, o novo passo. Seguir, sem muito conseguir, adiante.

Na manhã seguinte, estes relatos de como fora o teatro da vida. Últimos momentos, quase lembrados como lendas, mitos e verdades. A dor e o respeito. O confuso momento de aceitar o ocorrido. O vazio no peito e a perplexidade diante do fim. O tempo dos vivos parece parar para reverenciar o tempo dos mortos!

E minhas palavras ficam presas na garganta.

Apenas ao entardecer, vejo o caixão. Pessoas em volto e seus últimos desejos de paz. Uma caminhada silenciosa, quebrada pelo inicio de um terço frio e impessoal. Meu corpo rígido e frio caminha. Segue em silêncio. Nunca senti minha fronte franzir-se tanto contra os ossos. Minha própria morbidez. Chegamos ao término de nossa caminhada solidária.

Aproximamo-nos da cova. O caixão desce a seu novo lar. Flores lhe comprem e, junto delas, lagrimas se misturam como soluções e gritos atordoados de adeus. Minha carne prende ao meu rosto, sofrendo em silêncio, segurando o choro. Cada músculo mobilizado em não transparecer minha dor, que, deveras, já estava ali estampada. A respiração presa e a voz que não foge da garganta. O corpo enriquece-se e contempla o demorado adeus, enquanto a cova é fechada.

Alguém diz “aí está tua mãe, tua filha!” sobre alguém jazido que não teve filho algum, mas muitos netos. Muitos netos! E mais choro e sofrimento.

Saiba, eu também sofri, eu também chorei, mas em meu próprio tempo.

Descanse em paz, mesmo sem as merecidas palavras mais puras e belas, pois eu continuo perplexo e paralisado nos portões azuis-frio do “25”!

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