Morte
A vela que cai. O ultimo sopro de vida...
Silêncio!
Olhos atentos que velavam o corpo na rede.
Um pequeno corpo frágil e quieto. Uma pequena casa de taipa e barro, humilde e
aconchegante, cheia de personalidade. A certeza de algo que não se queria, mas
deveria ocorrer. O ciclo... O final de um ciclo e o esboço de um pequeno
sorriso, que compreendia a vida e a morte. Sorriso dos antigos, que não teme à
hora chegada. O sorriso de quem viveu uma vida bem vivida.
Mesmo com tantos em volta, a casa parecia
vazia. Aquela que a habitava já não se encontrava mais ali. O silêncio
preenchia o ar. A tristeza se mesclava com a certeza do momento, que já se
sabia que viria, mas nunca se desejaria.
A perda, o novo passo. Seguir, sem muito
conseguir, adiante.
Na manhã seguinte, estes relatos de como
fora o teatro da vida. Últimos momentos, quase lembrados como lendas, mitos e
verdades. A dor e o respeito. O confuso momento de aceitar o ocorrido. O vazio
no peito e a perplexidade diante do fim. O tempo dos vivos parece parar para
reverenciar o tempo dos mortos!
E minhas palavras ficam presas na garganta.
Apenas ao entardecer, vejo o caixão.
Pessoas em volto e seus últimos desejos de paz. Uma caminhada silenciosa,
quebrada pelo inicio de um terço frio e impessoal. Meu corpo rígido e frio
caminha. Segue em silêncio. Nunca senti minha fronte franzir-se tanto contra os
ossos. Minha própria morbidez. Chegamos ao término de nossa caminhada
solidária.
Aproximamo-nos da cova. O caixão desce a
seu novo lar. Flores lhe comprem e, junto delas, lagrimas se misturam como
soluções e gritos atordoados de adeus. Minha carne prende ao meu rosto,
sofrendo em silêncio, segurando o choro. Cada músculo mobilizado em não
transparecer minha dor, que, deveras, já estava ali estampada. A respiração
presa e a voz que não foge da garganta. O corpo enriquece-se e contempla o
demorado adeus, enquanto a cova é fechada.
Alguém diz “aí está tua mãe, tua filha!”
sobre alguém jazido que não teve filho algum, mas muitos netos. Muitos netos! E
mais choro e sofrimento.
Saiba, eu também sofri, eu também chorei,
mas em meu próprio tempo.
Descanse em paz, mesmo sem as merecidas
palavras mais puras e belas, pois eu continuo perplexo e paralisado nos portões
azuis-frio do “25”!
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