Deleite
O quintal mais florido e harmônico de minha
infância. A casinha mais rústica que vi em minha cidade. Os gestos mais gentis
e bobos que alguém poderia lhe ofertar. Assim eram nossos tempos. Um quintal,
que mais parecia sair dos mais deliciosos contos de fadas. Um poço velho, duas
senhoras idosas distintas, uma mais alta e magra e uma mais gordinha e baixa, e
alguns gatos soltos pelo local.
Lembro-me de creditar a elas o papel de
velhas bruxas, mas bruxas boazinhas, daquelas que cuida de seus vizinhos. Era
de se pensar, pois viviam para si, bem reservadas e curiosamente bondosas como
nunca se viu.
Com o tempo estas idéias me fugiram a
lembrança. Mas o mundo me fez repensar o mundo. Então eu pensei:
A mais baixinha parecia ser a bruxinha que
fazia a mais magra e irritadiça ser boazinha também. Descobri, tempos depois,
entre as papoulas do nosso quintal, que fazia cerca com cerca com o delas, que
ela era como uma mãe a alguém. Muito tempo depois, somente muito tempo depois,
depois de não ter mais tempo de conversar com ela sobre, descobri que ela foi
como mãe de muitos!
Realmente, era alguém da magia, que criará
muitos em segredo, ao menos segredos encantados, pra mim! Era a magia do amor!
E era místico pra mim saber nos últimos segundos antes do adeus, que eu
conhecia alguém tão fantástica, nas duas acepções do termo!
Foi encantado descobrir suas superstições
de guardar um pote de barro cheio de sal grosso contra os maus olhados. Foi
encantado pra mim descobrir que nos dias de sexta-feira ela delicadamente
depositava algumas gotas de perfume na água de seu banho, pois era um dia
diferente dos demais, diferente dos dias comum e requeria banhar-se assim.
Era a senhorinha mais doce que conheci e
que me confundia com meu pai, a quem chamava de namorador, a quem teve muitos
netos, sem nunca ter um filho. A quem devoto hoje um imenso amor maior do que
antes, afinal, eu também fui um dos muitos netos!
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